Apenas mais uma história...



Ela passou o dia pensando em uma história para contar, uma forma de contar uma parte de sua história, mas, meio assim, como se não fosse sua história...como quem conta uma história de um outro alguém.

Ela pensou em nomes, episódios, momentos...mas, o dia passou, a história foi ficando para depois e, então, antes de dormir, circunstâncias adversas vieram reformular o conteúdo da história que ela iria contar e o depois adiou o sono e a história acabou vindo primeiro.

Houve um tempo em que ela acreditou que tinha um chão, um porto seguro, onde ancorar e ela acreditava porque fizeram com que ela acreditasse. Ela, então, estava em outro lugar, um pouco distante, querendo voltar para onde estivera antes e, decidida a voltar, acreditava que seria tudo perfeito: ali estavam pessoas a quem ela havia se afeiçoado, quem ela conhecia, um Universo que tinha se tornado seu, uma história que ela já havia vivido...sem surpresas, sem tristes novidades, tudo muito previsível, muito seguro, muito cômodo.

Havia alguém (que acabou se tornando o protagonista da história de hoje, embora ela tivesse passado o dia com outro tema em mente) a quem ela se entregou, viveu algo intenso, que a deixara fora do prumo, do rumo, alguém por quem ela se colocou como um escudo, tudo fez por ele, comprou seu karma, ofereceu a própria cabeça em uma bandeja, para que a dele fosse salva...sim, dito assim, de forma crua, foi assim mesmo que aconteceu.

Houve toda uma história (repetição proposital do substantivo), por tanto tempo e, para ela, nada havia de vulgar ou errado em algo que era legitimado pelo sentimento...(substantivo usado para designar algo vivido de forma unilateral.)

Mas, essa não é a questão...não mais. Havia algo em que ela acreditara, algo além de um sentimento, um momento, uma história...ela acreditara em palavras ditas por essa pessoa, palavras que poderiam significar um mero galanteio, ou poderiam, quem sabe, significar alguma admiração daquela pessoa.
Ela não queria nada mais além de saber que ele estaria lá, sempre estaria, que ela poderia, algum dia, contar com ele...que ele sentia as saudades que dissera sentir, que ele faria por ela o que ela fizera por ele, embora  ela tenha tido inúmeras oportunidades de ver que ele não seria capaz...ele não tinha o mesmo a oferecer.

Ela estava voltando para onde considerava o seu chão, em sua mente as palavras que vira em certo filme, que aquele lugar guardava todos os seus sonhos.
Então, ela voltou, confiante, feliz, realizada, acreditando que tudo seria como sempre foi, quem sabe melhor, ainda que, por um detalhe ou outro, não saísse, por acaso, tudo exatamente como ela imaginara, mas, bastava que, em diversos aspectos, estivesse como sempre fora: as mesmas pessoas, os mesmos lugares, a mesma vida.

Em questão de dias ela viu esse mundo simplesmente se desintegrar...mais...ela viu esse Universo desabar em sua cabeça e nada mais restar do que lembranças e a sensação de ter entrado na história errada...aquela não poderia ser a dela!
Quem ela defendera, aquele por quem ela servira de escudo, a deixara sozinha, quando mais precisara e, junto a ele, uma a uma, foram se distanciando as pessoas que ela pensara que estariam sempre lá, sempre por ela, para ela...
Ela só sabia se defender das circunstâncias, embora, no fundo, não entendesse muito bem o que estava acontecendo, ela estava tão surpresa que seus instintos prevaleciam, ela mal conseguia pensar, só se defender, defender, o tempo todo...ela não conseguiu nem parar para chorar o sonho perdido, o fim da história que ela idealizara, na qual ela acreditara.

Hoje ela olha as fotos e vídeos antigos, revira lembranças, chega a sentir saudades e, então, para tudo e se questiona se foi tudo verdadeiro ou parte de uma grande mentira.
As palavras ditas, cada abraço, cada momento, cada pessoa...parecia tudo parte de um filme, atores que se despiram de seus personagens...o lugar onde era seu chão se tornou uma cidade fantasma, assombrada por um passado que talvez não tenha existido.
Ela está mais forte, hoje em dia; um pouco incrédula, mas, superou bastante e muitas coisas...mesmo aquela voz ao telefone acusando-a do que não havia feito, pedindo paz e distância...mas, que paz se não fora ela a causadora da guerra?

Ela desistiu de entender e seguiu em frente...procura recomeçar, pois descobrira que não haveria como se manter em sua zona de conforto, em seu sonho previsível e seus lugares comuns, com pessoas que estariam ali, esperando-a, sorridentes, de braços abertos, feições sinceras, conhecidas, familiares...era preciso recomeçar e ela recomeçou. Recomeçou sua história no lugar que guardara todos os seus sonhos...muitos deles ela resolveu deixar de lado...do lado de fora do baú...precisava abrir espaço para novos sonhos, novos momentos, novas pessoas.
As outras pessoas ficaram em seus "mesmos lugares de sempre", ele...ele continuou em seu mundo previsível, só que, agora, para ela, a história era outra e sem ele...sem eles...sem ninguém deles.

A saudade bate? Bate! Ninguém mata uma lembrança! Mas, não há como contar aquela história sem questionar até que ponto ela foi verdadeira.

E, assim, foram, quase todos, felizes para sempre...cada um à sua maneira, em seu devido lugar!

...e ela não precisou de nenhum daqueles abraços para se sentir reconfortada e de nenhum daqueles sorrisos para se sentir em casa. Mesmo ele, "o tal do Karma", não foi necessário, com suas palavras fáceis, e sua voz rouca para fazer com que ela se sentisse bem, sentisse que estava tudo bem.

Ela se surpreendeu, pois, primeiro quem ela pensava serem amigos, revelaram-se inimigos e quem ela acreditava serem seus inimigos, tornaram-se amigos.

E, assim, do seu próprio jeito, ela escreve a própria história, sem personagens que se tornaram meramente fictícios, afinal, apenas em sua imaginação existiram. Sua história se encaminha não para um final feliz, mas, para constantes e felizes recomeços, com pessoas reais...VERDADEIRAS! Querem saber? Ela está muito melhor assim!

"Agora eu sou forçado a olhar pra trás
Eu sou forçado a olhar pra você
Você usa mil faces
Me fale, me fale qual é você
Espelhos quebrados pintam o chão
Por que você não pode ver a verdade?
Você usa mil faces
Me fale, me fale qual é você"
(A Thousand Faces - Creed)

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