Conto: A Carta




     
    Olá,como tem passado?

   Espero que bem, porque, quanto a mim, tenho vivido minha vida...inclusive é o que tenho feito nesses últimos 12, quase 13 anos, de um jeito ou de outro.
   Tenho acompanhado seus passos, principalmente nos 8 primeiros anos, quando eu ainda o sentia tão presente e me sentia, ainda, tão vinculada a você.
   Vi que tentou buscar outros amores, vi que se decepcionou, vi quando tentou de novo e, ainda posso ver, você está em mais uma tentativa, a qual não compreendo, mas, também, não creio que vá te levar a algum lugar.
   Você foi meu primeiro namorado, meu primeiro amor, de fato, e, sei, sei porque ouvi muito de você: eu fui seu primeiro grande amor!
   Em uma época em que éramos, apenas, praticamente, duas crianças, inconseqüentes e cheias de sonhos, criando um mundo utópico, onde havíamos, apenas nós dois...apenas eu e você...e as inúmeras cartas que eu escrevia e as canções que você tocava ao violão, dedicando-as a mim...nós,tão jovens e idealistas, tecendo sonhos dourados...não...não eram impossíveis, apenas era cedo demais para torna-los reais.
  Mas a vida trouxe ilusões e, ao mesmo tempo, a realidade que recusávamo-nos a enxergar e nos direcionou, cada um, a rumos diferentes, linhas que difícilmente se encontrariam, mas, que pareciam seguir paralelas, pois, a cada acontecimento que sucedia-se a você, algo parecido acontecia comigo...vez ou outra o acaso nos reunia e nos fazia, intimamente, lamentar os anos que nos separaram.
  Ainda lembro da última vez em que o vi, anos atrás...do nervosismo que se estampou em seus olhos, das suas mãos trêmulas tentando acender o cigarro...eu nunca o havia visto fumando, mas você garantiu-me que o fazia desde que terminamos.
 Você ainda fazia parte daquilo que lamentei ter perdido, ainda era alvo do meu desejo secreto de ter você de novo, o fantasma que me perseguiu por anos e anos, não me deixando apaixonar, de fato,novamente, por ninguém.
  Eu sempre tive tantas coisas a te dizer, coisas que ficaram sufocadas por tanto tempo...sempre quis te contar que nunca joguei fora as cartas que você havia escrito, que ainda guardava suas fotos e os discos de onde tirava as canções que tocava para mim. Me recusei, por todos esses anos, a trancar nossas memórias no baú do esquecimento, alimentei-as e o venerei, como um deus ao qual eu devesse apresentar minhas penitências por tê-lo martirizado, um dia.
  Era o seu nome que eu chamava, sempre que algo me feria, me magoava, quando o desespero batia e eu pensava: "ele jamais teria feito isso a mim!".
  Quando eu sofria, eu acreditava que era por tê-lo feito sofrer algum dia e aceitava, resignadamente, o que eu julgava ser o tributo a ser pago por conta das lágrimas que custou a você, o amor que sentiu por mim.
  Amei-o, em segredo, tendo a mais absoluta certeza de que, talvez, você jamais tivesse deixado de me amar também, de que, se você pudesse deixar seu orgulho de lado, talvez pudesse se abrir para reencontrar esse amor que jamais saiu de dentro do seu peito.
  Entretanto, a dor que o inflingi, o transformou. Hoje, quase não posso reconhecer nesse homem frio e indiferente, o menino de sorriso meigo e carismático de outrora. Não mais vejo em seus olhos o ar sonhador e, sim, o ceticismo de uma pessoa que aprendeu a caminhar com as quedas que levou, pela vida. e como dói em mim saber que eu fui a causadora de muitas dessas quedas, dessas dores.
  Eu jamais pretendi ser o instrumento que o faria crescer, através da dor, jamais pensei em carregar o fardo de ser aquela por quem você se transformou, tão radicalmente, no que é hoje.
  Eu só queria ter a chance de olhar em seus olhos e te contar tudo, não digo "te explicar", pois não há explicação para o que houve, e, a passagem do tempo só mostrou que não houve culpado algum. Mas, penso que, sabendo que também sofri, você, talvez, possa deixar de me ver dessa maneira que ainda vê...como a pessoa insensível que ousou isolar você do mundo para, depois, destruir o que havia de melhor em você.
  Eu queria...queria ultrapassar a distância que existe entre nós, distância que se deixa enganar por nótícias virtuais que tenho de você, distância que não precisaria existir...queria transpô-la para dizer tudo o que está sendo dito aqui e te contar que as cartas e fotos e lembranças continuarão comigo, por onde eu for, jamais abrirei mão de mantê-las...quem sabe, um dia, eu possa mostrá-las a você e dizer o quanto me importei, por todos esses anos...quem sabe, um dia, possamos sentar e conversar...quem sabe, possamos nos encontrar além das coincidências...e, mesmo que eu note em você alguma tensão, fingirei que nada vi,  para não constrangê-lo...não vou desviá-lo do caminho que escolheu...apenas quero que saiba que, de uma forma ou de outra, você sempre esteve aqui...comigo.
  E assim seguirei...acompanhando seus passos à distância, enquanto ignora os meus.

                             Sempre, sempre, sempre...
                                                   ...
P.S.: Saiba que, ainda que você tenha rasgado todas as minhas cartas e fotos e tenha deletado da mente tudo o que se referia a mim, eu jamais tive coragem de fazer o mesmo com você, pois, houve uma vez em que tentei rasgar uma foto sua, mas minhas mãos quedaram-se inertes, deixando cair o retrato no chão...uma dor veio do fundo da minha alma e rasgou meu coração, pois senti que se me desfizesse de tudo o que guardei, estaria arrancando um pedaço de mim mesma, onde nossos momentos ainda vivem. e, descobri que, de nada adiantaria, destruir cartas, fotos, se jamais poderia destruir as memórias...jamais!

Comentários

  1. Oi moça ...
    adorei seu blog
    maravilhoso ele ..
    escreve muito bem .. tem excelente originalidade ...
    gosto do que li aqui ...
    to te seguindo... não tem problema, não é mesmo?

    bjus

    t+

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  2. obrigada e sinta-se à vontade para seguir e, também, para indicar aos seus amigos!
    fico feliz que tenha gostado dos meus textos, volte sempre, porque sempre haverão novidades, por aqui! ;)
    bjss
    e boas festas!!!

    ResponderExcluir

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